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domingo, 22 de julho de 2012

As lições por trás de Harry Potter e dos muros de Hogwarts

Este mês completa-se e comemora(ou)-se o aniversário de um ano da estréia do ultimo filme da saga Harry Potter, As Relíquias da Morte - Parte Dois. Neste mesmo mês também comemora-se cinco anos do lançamento do livro no qual este filme foi baseado. A saga Harry Potter já conquistou seu lugar na história da literatura, e J.K. Rowling como grande maestra de fantasia. Estes livros já chegaram a ser usados como livro de apoio numa disciplina de estudo da ética e moral cívica na faculdade Oxford, foi considerado um livro "anti-infantil" e por algum tempo figurou a lista de livros proibidos pela Igreja Católica por incentivar bruxaria e satanismo. A série rendeu uma franquia de oito filmes mais de 7 bilhões em lucro, além de um parque temático em Orlando. O ultimo filme teve 97% de aprovação no Top Critics do Rotten Tomatoes e... nenhum Oscar. Afinal de contas, o que há por trás de Harry Potter, além de uma série de livros brilhantemente bem escrita?


Escrito por J.K. Rowling, Harry Potter teve seu primeiro livro, A Pedra Filosofal, lançado em 1998, pela Bloomsbury após o manuscrito ter sido recusado por outras doze editoras. Durante muito tempo me pergunto o quão chateadas e desesperadas essas editoras devem ter ficado ao descobrir que aquele manuscrito do menino bruxo que "não-tinha-nada-a-oferecer" teria explodido em sucesso no mundo inteiro. Afinal, era apenas a história de um menino bruxo para crianças. Nada muito complexo ou difícil de entender

Pois tinha que ter, já que cativou jovens, adultos de todas as idades, gêneros e faixa-etárias. E tem. Quando J.K.Rowling idealizou a a saga Harry Potter, de fato era apenas uma história para crianças. Sobretudo uma história para ela. Porém, um velho ditado diz que a ficção sempre imita a realidade(há ainda quem diga que a realidade imita a arte, falaremos disso em outra ocasião). E não é que a Srta. Rowling tomou um pouco de inspiração do nosso mundo ? Estes livros conseguem tratar de temas subjetivos como amor, amizade, lealdade, a distinção entre bem e mal, entre outras coisas. Mas também trás aos leitores (e telespectadores) temas universais do nosso mundo como desigualdade, preconceito, discriminação, tensão política, descaso, deturpação dos valores sociais e éticos e por aí vai. É nessa hora que você pergunta: como assim riray? eu não vi nada disso!
Ah, mas tem, e como tem. Quer ver só? Vou te mostrar porque Harry Potter já foi alcunhado de "O anti-Peter-Pan".

Harry Potter e a Pedra Filosofal começa com um "duplo-assassinato" onde Lord Voldemort invade casa dos pais do bebê Harry os mata, e tenta matá-lo, mas não consegue. Dessa forma, ele arranca do bebê Harry e, posteriormente, do jovem Harry o amor dos seus pais. A partir daí o jovem Harry é obrigado pela vida a crescer, sendo criado pelos tios que são tem uma mentalidade "medieval". Os Dursley, em pleno século XX(a história se passa entre os anos 1990 e 2000, infelizmente não sei a data exata) ainda tinham medo de magia e bruxas( à moda Inquisição) quando todos acreditavam que isso não existia(mais). Coisas estranhas aconteciam ao menino Harry e ele não sabia explicar, as vezes, sem querer, dizia "foi como magia" e isso era o suficiente para seus tios te darem um pesado castigo. Harry não tinha amigos e era maltratado pelo primo, ninguém sabia da existência dele, e o menino ainda funcionava como empregado doméstico da cada. Resumindo, uma vida de merda. O menino Harry não teve infância, nem alegrias, nem amor. Tudo isso foi tirado dele com a morte dos pais. A partir deste fatídico dia - onde os Potter são mortos - Harry é obrigado a crescer e se distanciar da infância e a ter responsabilidades muito cedo, pois a vida nunca lhe ofereceu muitos risos. Isso é um ponto onde a autora toca e que identifica, de imediato, o menino bruxo não apenas com as crianças que sofrem bullyng dentro ou fora da família, como as orfãs e, de quebra, até mesmo os adultos que tiveram uma infância complicada, trabalharam cedo para ajudar os pais, ou simplesmente saíram cedo de casa por urgência da vida. Há quem diga que Harry Potter seja para crianças e muito infantil. Harry Potter, na verdade, fala que as crianças precisam crescer, cedo ou tarde. No caso de Harry, cedo até de mais. Por isso Harry Potter é o "anti-Peter Pan" do século XXI, já que Peter Pan incentiva os sonhos e a eternidade do espírito da criança.
Harry Potter e a Pedra Filosofal pra variar, traz mais uma ideia "existem pessoas diferentes, e essas pessoas diferentes nem sempre são bem aceitas". Ao revelar a Harry que ele é um bruxo, Hagrid mostra a ele Hogwarts, que é nada menos que um mundo onde existem pessoa iguais a ele e que não o vêem com discriminação. Há a "igualdade natural" entre os bruxos. Mas depois descobriremos que mesmo entre esses, há descriminação. Hogwarts é o mundo que Harry poderia ter conhecido, mas não pôde, onde ele é famoso e nem sabe porquê e todas as pessoas respeitam ele, sem nem mesmo saber que tipo de pessoa ele é.

Falando em fama, que tal irmos para A Câmara Secreta onde, bem no início temos o lamentável professor Lockhart querendo sair na primeira capa do jornal, ao lado de Harry Potter, fama em dobro! Espera, espera: até no mundo bruxo existem pessoas que querem aparecer as custas das outras? Pois é, em todo lugar, qualquer cultura, pais ou continente, essas pessoas sempre vão existir, mesmo que o objeto de "exploração" seja uma criança(e isso acontece muito). Lockhart é mais uma metáfora do mundo real, ou pode ser enxergado assim. Lockhart é um charlatão, vive as custas do trabalho dos outros. Tem dezenas de livros publicados, todas com a foto com sua cara estampada na capa, onde ele ensina a fazer magia, e outros livros ainda onde ele conta a história de como derrotou diversos seres das trevas, e todos o admiram por isso... pura mentira. Lockart na verdade não sabia nada de nada, ele apenas era um especialista em feitiços de memória, apagar, modificar, alterar... enfim. Ele roubava as teses e histórias desses bruxos não tão bonitos e não tão carismáticos, apagava suas memórias e depois saia por ai dizendo que foi ele... E é claro o sorriso mais bonito do mundo bruxo segundo profeta diário. Será que vocês lembram de algo? Certamente que sim. O charlatanismo , a mentira e o roubo são um mal comum ao nosso mundo.

Em O Prisioneiro de Azkaban eu gosto de destacar Sirius Black, Sibíla Trelawney e Rabicho . Sirius Black é tio de Harry e melhor amigo de seu falecido pai. Sirius foi preso em Azkaban - a prisão dos bruxos - por ter assassinado doze trouxas mais ou menos na época da morte dos Potter, e também de ter matado um de seus amigos colegiais, Rabicho. Diziam que Black era tão mau e tão violento que tudo que restou do pobre Rabicho foi um dedo. Eventualmente, após muito tempo, Sirius escapa de Azkaban e segue para hogwarts. Todos acreditam que seu alvo é Harry, mas o amigo de Harry, Rony Weasley, tinha um rato e... adivinha, ele tinha um dedinho faltando não é? A verdade é que Rabicho matará os trouxas para incriminar Sirius e cortará o próprio dedo, posteriormente transformou-se em rato e assim ficou durante anos. Sirius é nada menos que um homem que foi preso por um crime que não cometeu e passou tempos horríveis. Quantas vezes isso acontece no nosso mundo? Pior, aqui no Brasil? heim?
Sírius, como é de se esperar, retorna com sede de vingança, ele quer trucidar Rabicho a qualquer custo. Até mesmo os animais nos quais eles se transformam são uma metáfora. Sirius é um cão selvagem, os cães geralmente são associados a amor e lealdade, tal como Sírius era leal à Tiago Potter. Ratos, normalmente são associados a esgodo, ladrão, roubo... coisas repugnantes. Rabicho definitivamente é repugnante como um rato. Quantos ratos já passaram pela nossa vida ?

Sibila Trelawney é um caso especial em Harry Potter. Ela é uma vidente filha de uma famosa vidente, e ela era a responsável pela profecia que levou Voldemort até Harry. Por isso leciona em Hogwarts, ninguém, no entanto, realmente acredita na sua clarividência e ela é constantemente zombada por todos. Mais tarde, no entanto, descobrimos que ela de fato tem um dom. Quando temos um talento, nem sempre ele será reconhecido, mas se ele de fato existir, uma hora vai haver alguém com olhos treinados capazes de enxergar. E talvez esse simples talento mude a vida de muita gente. Essa é Trelawney. Ela também personifica uma velha ideia grega que foi trazida com o oráculo: As profecias funcionam porque as pessoas acreditam que elas funcionam, na verdade é tudo obra do acaso, não do destino.Ex: na história de Édipo, se os pais dele não acreditassem que ele mataria o pai e se apaixonaria pela mãe, como disse o oráculo, não teriam-no deixado no deserto para ser encontrado por um rei. O resto vocês já sabem. O mesmo acontece entre Voldemort e Harry. Se Voldemort não tivesse acreditado que Harry teria poder para vencê-lo, talvez nunca tivesse mesmo.
Neste livro também temos um pouco de política e jornal. Cornélius Fudge, Ministro da Magia, desesperado, fazendo de tudo para tranquilizar as pessoas enquanto caça o fugitivo black, de uma maneira nada ética. Além de ter sua credibilidade abalada. Afinal, Azkaban não deveria ser inexpugnável e inescapável ?

Em Cálice de Fogo nós descobrimos que nem sempre o mundo está a nosso favor, que existem pessoas que fazem de tudo para nos derrubar, seja por ódio, por inveja ou por puro prazer de nos ver tombar. O Torneio Tribruxo é uma armadilha, preparada pelo lorde das trevas, um torneio perigosíssimo onde muitos estudantes já morreram. E agora Harry tem que sobreviver a ele. E no final, se sobreviver as três provas não fosse o suficiente, ele tem um encontro nada amistoso com rabicho. Rabicho, traz da morte o Lorde das Trevas. Por via de curiosidade: Voldemort vem do francês, e significa "Vôo da Morte". Uma das lições que aprendemos neste filme/livro, vem do personagem "Olho-Tonto Moody" que na verdade é um comensal da morte disfarçado(pra quem não sabe, mais uma vez por curiosidade, significa "comedores da morte".Que tal pensar um pouco a respeito desta expressão?). A mensagem é vigilância constante. Afinal, precisamos estar atentos, estamos num tiroteio - a vida - nunca sabemos por onde vem a próxima bala.

Ordem da Fênix traz uma coisa nova. Voldemort retornou, Harry viu, Cedrico Digory morreu no torneiro e todos acham que Harry o matou. Dumbledore acredita em Harry, mas somente Dumbledore. O Ministro houve fuga em massa em Azkaban e o Ministro da Magia está colocando a culpa em Sirius Black. Os maiores perigos do mundo bruxo(a maioria ex-comensal da morte) estão a solta e Cornélius Fudge não consegue admitir que Lord Voldemort retornou. A história adquire um teor um pouco mais político neste ponto. Fudge manipula os jornais para dizerem aquilo que ele quer, para fazer de Harry Potter um louco e Dumbledore um conspirador que está fazendo um exercido de crianças em sua escola. Ele intervém na educação dos alunos através da Alta Inquisidora Dolores Umbridge, que também é sua secretária! uma das medidas tomadas por ela é impedir que grupos de mais de três alunos andem juntos, isso lembra algo ? O mundo não é um lugar seguro, e o ministério está fingindo que é, esse é o mundo bruxo em Ordem da Fênix. E quantas vezes os jornais, a mídia, o governo, enfim, tudo não mente para o povo, para nós, para esconder a real situação das coisas. Com isso, o quinto livro/filme de Harry Potter, trata também da alienação e da distorção da verdade, esse é um ponto muito claro no enredo.

Enigma do Príncipe é uma coletânea de respostas para todas as perguntas dos livros anteriores.  Nele, o ministério já admitiu que Voldemort retornou e que o mundo está em perigo, Fudge foi substituído por Rufo Scrimgeour como ministro da magia. Mas parece que nada muda, este novo ministro também está em desespero para achar uma solução para esse problema chamado Voldemort. Enigma do Príncipe é o livro que conta a história do personagem Voldemort e revela a Harry o segredo de como matá-lo. Descobrimos que Voldemort era uma criança orfã, sua mãe era bruxa de sangue nobre - Merópe Graunt, seu pai era um trouxa - Tom Riddle -, um trouxa vigarista que foi enfeitiçado por Mérope para se apaixonar por ela. Merópe descendia de Salazar Slytherin, fundador da casa Sonserina em Hogwarts. Quando Mérope decidiu que poderia fazer ele se apaixonar por ela de verdade, deixou de dar-lhe a poção do amor e contou-lhe ser bruxa. O homem a abandonou, grávida. Merópe estava depressiva e não conseguia usar magia, estava fraca e não tinha onde cair morta, seu ultimo desejo é que o filho seja parecido com o pai(bonito como o pai) e que seu nome seja "Tom Servolo Ridlle". E a criança nasce. Nasce bonita, e má. Descobrimos aqui que algumas pessoas não se tornam más, isso faz parte da natureza delas. Voldemort é uma dessas crianças, machucava, roubava e cometia atrocidades desde os primeiros anos. Se achava especial, e quando descobriu ser bruxo, essa ideia simplesmente cristalizou em sua cabeça. Voldemort é meio bruxo, meio trouxa, um "sangue ruim" e, ironicamente, ele exalta a superioridade dos bruxos, admitindo que sangue bruxo não deveria ser misturado, trouxas e sangues ruins deveriam ser dominados e colocados em seus devidos lugares... e por ai vai. Lembram de alguém? Esse cara viveu no século XX e foi responsável pela pior guerra da história. Era um judeu que não gostava de judeus.
A discriminação, tanto dos bruxos para com bruxos, para com trouxas e, ainda para com outras criaturas mágicas como elfos domésticos(representado principalmente por Dobby) e duendes(como Grampo) é um tema recorrente em Harry Potter. Talvez isso seja até de propósito.

As Relíquias da Morte termina a saga de uma forma quase "dissertativa". Durante a corrida em busca das partes da alma de Voldemort, Harry, Ron e Hermione se vêem isolados no mundo, mudando de lugar em lugar, florestas, lugares abandonados, principalmente. Eventualmente tem noticias dos mortos, ou como funciona o mundo gerenciado pelo lorde das trevas. O ministro da magia foi morto, sangues ruins são caçados como criminosos, bruxos perdem direito de usar magia, pessoas desaparecem a todo tempo, Hogwarts foi dominada pelo professor Snape, que tinha se revelado comensal da morte no volume anterior e os alunos estão a mercê de Voldemort.O mundo esta exatamente do mesmo jeito que estava antes da morte dos Potter. Enquanto isso outro conflito se desenrola entre Harry e seus amigos, a dúvida, o peso da situação, a amizade e a confiança abalada são temas que Relíquias carrega. A melhor história de Relíquias da Morte é do próprio Snape, que no final se mostra como o grande salvador da pátria, que salvara Harry em dezenas de ocasiões, mesmo que ninguém soubesse. Snape era um ex-comensal, a serviço de Dumbledore, o único homem capaz de enganar o lorde das trevas e a prova de que mesmo uma pessoa que tenha cometido erros terríveis, pode mudar e se tornar alguém melhor, se no fundo houver ali alguma bondade. A batalha de Hogwarts é o golpe final, muitas pessoas morrem para proteger Harry, que é a personificação da esperança, Hogwarts vai a ruína, e há um momento que todos acham que tudo está perdido, mesmo assim não desistem de lutar. Porém quem deve derrotar o lorde é Harry. Isso representa que não importa as dificuldades e pedras em nosso caminho, devemos continuar e seguir de frente porque se fugirmos delas, eventualmente vão retornar até que as enterremos de vez. Resumindo: temos que fazer aquilo que devemos fazer.
Esse texto acabou por se tornar um artigo, depois um pergaminho. Tive medo que se tornasse um livro digital e por isso, tudo que eu falei são apenas alguns pontos da história que destaquei. Algumas das lições de J.K que ficam subtendidas por trás das aulas de Hogwarts de defesa contra as artes das trevas ou astronomia. Existem muitas outras coisas em Harry Potter, mas colocar todas elas aqui seria insano, por isso deixo-os com este texto já demasiado grande, afinal de coisas, essa série de livros, nos dá bastante coisa para pensar não ? Tenham uma boa noite e até a próxima!

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