NOTA: Este é um blog de opinião, não de noticias. Portanto tudo aquilo que for escrito, embora fundamentado em dados, noticias ou informação verídica, não é imparcial. E também não é uma verdade absoluta, é apenas uma opinião critica, portanto não deve ser vista com tal. Fica a dica.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

[REVIEW]Cidade de Deus - Fenando Meirelles

Porque tu sabe cara. Na Cidade de Deus, se correr o bicho pega, e se ficar o bicho come.


Buscapé
Personagem que
narra a história.
O Filme Cidade de Deus( Indicado a quatro oscars) tem, entre outros objetivos, a premissa de retratar a realidade da favela carioca de mesmo nome. Fernando Meirelles, através de sua primorosa direção, nos conta a história da favela que durante muito tempo foi famosa, berço de algumas das facções criminosas mais terríveis vista no Brasil. 
É um filme pesado, cruel. Feio se depender do ponto de vista. A Fotografia é impactante, os efeitos visuais de qualidade superior, a maioria dos filmes brasileiros do inicio da decada. A Fotografia tem um teor cru na maior parte do filme, contrastada, e em certos pontos escurecidas e muito suavizadas quando Meirelles se dispõe nos dar uma nova impressão. Se a imagem muda, é bom saber que nossa cabeça tem que mudar. Os Impulsos cerebrais devem se rearrumar para procurarmos a mensagem dentro da imagem. Essa mensagem não é obvia porque Meirelles confia nos telespectadores, sabe que são inteligentes.

Cidade de Deus concorreu aos oscars de Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia e Melhor Edição. Não é pra qualquer um, até mesmo nos nativos é difícil receber quatro indicações que se dividem em categorias técnicas e principais.


Antes de mais nada deve se ter em mente que existe um motivo para o filme se chamar "Cidade de Deus". Nele não há personagem principal. O grande personagem é nada menos que a própria favela. Berço de Buscapé, afrodescendente de origem pobre nascido na cidade. É através dos olhos de Buscapé e é a sua voz que narra o épico sangrento nada poético.

A história segue a trajetória da cidade a partir dos anos 1960, quando Buscapé ainda é uma criança. Nessa época conhecemos o Trio Ternura, eles são os atros do momento. Três amigos bandidos, que na favela isolada tornam se heróis através do roubo de dinheiro e itens de necessidade básica como botijões de gás de cozinha. Alicate, Cabeleira e Marreco eram vistos como o trio mais barra pesada do Rio, mas não chegavam nem perto. Nessa parte do filme, há uma cena interessante onde Cabeleira faz embaixadinhas e no final acerta um tiro na bola em pleno ar. Outra cena interessante é num momento de fuga após um assalto a um motel. Um dos rapazes, encima de arvore, tem um devaneio: um peixe sendo devorado por um peixe maior. Meirelles brinca com nossa cabeça - ele é o peixe pequeno, ele é a presa, a vítima, o negro marginalizado, escravo. Pouco antes na mesma sequencia a câmera, cujo teor da fotografia é alterado, focaliza no rapaz. Ele está mais escuro, mais rígido, mais negro. Ele é o escravo. A unica diferença que é outra coisa que o escraviza agora, dessa vez é a própria liberdade que um dia acreditou que teria.
Trio Ternura - Marreco, Cabeleira, Alicate
Dadinho, futuro Zé Pequeno
ainda jovem

O Trio ternura se desfaz rapidamente. Enquanto um se catequiza, os outros dois pagam por seus crimes com a bala de uma arma vinda de diferentes opressores. Mas o trio deixará uma semente, ou uma cria, como melhor pode-se entender. Fã do trio, e muito mais sanguinário que todos juntos, Dadinho cresce roubando e assassinado. Trilhando seu caminho para o império das drogas.

O filme avança mais no tempo. Dessa vez Buscapé é adolescente; ele quer ser fotografo e faz parte de uma turma que gosta de fumar maconha. É nesse momento que Dadinho reaparece mais transformado que nunca. Ao seu lado o inseparável e "boa pinta" Bené. Dadinho agora é Zé Pequeno e ele quer dominar a Cidade de Deus e o trafico de drogas.


Sandro Cenoura


Zé Pequeno vai matando em série os donos de bocas de fumo em todos os pontos da cidade, expandindo seu império cada vez mais e mais. Sandro Cenoura, carismático e menos violento é o único que tem seu ponto preservado. A Cidade de Deus torna-se primorosa em segurança; Zé Pequeno não permite crime em seu território e pune com vigor.
E ao inseparável parceiro de tráfico a paz se estabelece por anos. Neste ponto do filme, há uma cena interessante a ser lembrada. O grupo de crianças que pratica assaltos no bairro é encurralado pelos subordinados do chefe. Um dos opressores pergunta "Escolhe? tu quer toma tiro na mão ou no pé?" 


Zé Pequeno obriga a criança
a matar seu semelhante.

As crianças estendem as mãos. Ele dispara para baixo. Elas gritam e choram. Após isso ele chama uma terceira criança de idade semelhante para a cena, dizia que queria ser traficante. Nesse momento o opressor entrega-lhe a arma. "Vamos lá, você mata um dos dois, então escolhe". Ele escolhe. É preciso ressaltar o tamanho peso desta cena. O impacto emocional e psicológico transferido é muito grande. O que você vê é uma criança matando outra criança. Isso já é muito pesado. Ela está matando a inocência, a pureza, o lado bom da vida; está obrigando a criança a crescer, tornar-se adulta, uma adulta ruim; mutilando sua moral, seus sonhos e deturpando a profundeza de sua alma com sentimentos da pior espécie. 

"Você é uma criança, o que está fazendo aqui?"
"Que criança? Já matei, ja roubei... sou bicho homem"
Bené, inseparável "boa pinta" amigo
de Zé Pequeno morre alvejado.


Durante a história que se segue chega um ponto que de fato divide águas. Bené está cansado do mundo ilícito. Ele quer namorar, casar, viajar. Sentar-se no sofá com sua garota e fumar maconha o dia todo, como se o mundo fosse perfeito. Bené é amado por toda Cidade de Deus e na sua festa de despedida o mundo comparece. Desde as escolas de samba aos traficantes vizinhos. A luz é piscante, inquieta, o som de funk e black music se mistura, é difícil enxergar o que acontece e escuta-se o barulho de um tiro. Bené está morto. Zé Pequeno está sozinho. E agora nada mais pode detê-lo.
Zé Pequeno decide que é hora de tomar a boca de Sandro Cenoura; e a Cidade de Deus torna-se campo de guerra.


Cidade de Deus é não exatamente um filme complexo, mas passa uma ideia complexa. O que vemos não é um bando de favelados, o que vemos são pessoas a margem da sociedade que foram atiradas numa lata de lixo e rebaixadas ao nível do próprio lixo. Que foram forçadas a se tornar marginais, outro tipo de escoria. Vemos o flagelo do negro, a discriminação racial e social. Vemos o deturpamento da virtude no mundo onde o ladrão é o herói da pátria. Existe muito mais por traz dessa história. Este texto porém já está demasiado grande e demasiado cansativo.Seja do ponto de vista cinematográfico ou seja do ponto de vista ideológico,  Cidade de Deus é uma obra de arte e ninguém pode duvidar disso. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário